Sobre Sonhos e Caminhos

Já há algum tempo estou tentando formular um texto sobre a importância dos sonhos para atingirmos nossos objetivos. No campo empresarial, isso toma uma proporção maior, já que os sonhos impactam aqueles que compartilham nossa trilha e aqueles que, de alguma forma, participam dessa jornada.

Infelizmente, por mais que me esforçasse, faltava aquela centelha que leva aos caminhos lógicos, pilastras do pensamento. Iniciei esse texto algumas vezes e não conseguia articular.

Essa semana estive em uma feira de negócios na cidade de Bogotá na Colômbia. A feira é uma das maiores da América Latina e congrega alguns dos mais importantes fabricantes de soluções para os mercados em que atuo. A experiência foi sensacional, muitas reuniões, projetos nascendo, experiências compartilhadas... Enfim, tudo o que uma boa feira nos dá.

No final do primeiro dia, sempre chega o momento em nos damos conta que o sapato escolhido não foi lá a melhor ideia que tivemos na vida. Caminhando pelos corredores, a única coisa que se pensa é sobre um lugar bom para sentar e tirar aquela pressão que os quilinhos a mais faz nos pés. Exatamente nesse ponto me dirigi a um outro pavilhão onde estavam sendo apresentadas soluções inovadoras, e lembrei-me que havia um circuito de palestras. Sei que seria muito mais chique dizer que eu estava buscando mais conhecimento, mas a verdade é que eu queria descansar um pouco e usar esse tempo de maneira produtiva. Entrei numa sala e me deparei com um palestrante realmente apaixonado pelo tema que discursava.

A palestra havia começado há alguns minutos e a energia e paixão do palestrante gerava na plateia uma concentração pouco usual. O palestrante era um jovem PhD da Universidade de Monterrrey no México chamado Jan Rehak e ele falava sobre a criação de inovações e como devemos construir redes sustentáveis e inovadoras. Em determinado momento, falou sobre os processos inovadores abertos e a necessidade de permitirmos a contribuição de outros na elaboração das soluções. Ele comentou que isso acontece quando percebemos que não somos iluminados por nossas ideais espetaculares, mas achamos caminhos apropriados para executá-las, e com a contribuição multilateral podemos atingir nossos objetivos de maneira mais eficiente e rapida. A palestra foi simplesmente brilhante.

Ao final ele proferiu uma frase que, dentre as muitas que já ouvi, reputo como uma das mais importantes e potentes: a ideia tem valor zero. O que gera valor é a sua execução.

Aquele momento me foi magistral. Somente quando estamos completamente sozinhos, imersos em nossos pensamentos, conseguimos absorver propriamente aquilo que nos cerca. Os sentidos parecem em polvorosa, e criamos um emaranhado de conexões entre os pensamentos, misturando e buscando criar sobre isso. Imediatamente me veio a mente o bloqueio sobre falar de sonhos. Sonhos são objetivos que traçamos e que nos guiam para atingirmos um nível de satisfação superior com a nossa própria existência.

Oras, depois de viajar alguns milhares de quilômetros até aqui, aguentar a dor de cabeça por conta da altitude, a dor incomoda nos pés, compreendi que a ideia de estar aqui era ouvir essa frase para concatenar o texto que estava tentando desenvolver sobre sonhos no empreendedorismo. As ideias são elementos que compõem o sonho do empreendedor. Sonhos são devaneios de uma realidade virtual cuja concretização permite a satisfação e, portanto, versam exatamente sobre as mesmas coisas. Como lideres devemos promover nos colaboradores a criação de sonhos próprios para que possamos conjugar com os nossos e de nossas empresas, e chegarmos a satisfação juntos. Mas promover o sonho, assim como a geração de ideias, não tem valor se não estiver acompanhado de uma vontade estruturada de atingimento, e um planejamento detalhado para isso.

O que nos difere das crianças que sonham em ser astronautas é que, diferente delas, não enxergamos somente a aventura de flutuar no espaço: compreendemos que para isso precisaremos estudar engenharia aeroespacial e pilotar um avião, além de ter um físico invejável e o corpo nas proporções exatas. Ou seja, além de nos deleitarmos com a possibilidade de vermos a Terra de um ângulo que poucos viram, sabemos o que nos custará chegarmos lá. E, em nossa empresa, precisamos promover as ideias e os sonhos pessoais de cada um para que tenham um norte, mas também promover neles o desejo de obter com a experiência para construírem solidamente aquele horizonte.

Os sonhos são essenciais, mas eles são o norte, a direção para onde vamos. Assim como a liberdade criativa é pedra angular de nossa existência e evolução, o que nos trouxe de onde estávamos para onde estamos foi a nossa capacidade de, estruturadamente, acharmos os caminhos que nos exigiam menos energia e que geravam maior valor. Promover a criatividade e o desejo de novos sonhos em nossos colaboradores é fundamental para o sucesso, mas também o são os provimentos de ferramentas para a construção desses caminhos.

Afinal de contas, um muro não é um amontoado de tijolos. Ele é uma estrutura solida montada com elementos estruturais e elementos de união que garantem que, com chuva ou sol, ele esteja sempre ali, protegendo o que se propõe.

Que tenhamos e promovamos sonhos e ferramentas para construção. Sonhos que se tornam realidade são a base da satisfação e, ao final, é exatamente isso que buscamos na vida. Isso e um sapato confortável para feiras, assim como alguns quilos a menos.